sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Oi... quanto você custa?

Eu gosto de ver as prostitutas pelas calçadas da Gloria.
Fico imaginando por que elas ficam ali – seria muita ingenuidade minha pensar que é apenas pelo dinheiro.
Nem eu trabalho 15 horas por dia, nem você joga no Bicho, nem ela dá para 15 toda noite só pelo dinheiro.

Existe o prazer sujo. E eu gosto de ver esta imundice escancarada nas calçadas da Gloria. Meu ônibus passa carregado de pessoas tão limpas e corretas. Tão cheias de gravatas, sedas e pulseira de prata. E aí, em pleno asfalto quente e gasto, o meu ônibus cruza com corpos baratos, cobertos de bijuteria falsa, esperando por alguém para quem abrir as pernas.

Eu gosto de ver estes batons vermelhos pela cidade. As meias-calças puídas de tanto tirar e colocar. O fedor que os poros exalam por conta da esfregação barata e variada. Os shorts enfiados na bunda, as unhas roxo-descascado, o prazer exalado na pele que dinheiro nenhum compra. Entendeu? Dinheiro nenhum compra.

É a podridão no sentido máximo da palavra que se encontra com o sexo. O mesmo sexo que as pessoas, aquelas do meu ônibus, conhecem, apesar de toda a hipocrisia – eu só dei para três caras, e você?
E, por isso, tudo é “tão” chocante. Muitas pessoas viram o rosto, ignoram, fingem que não vêem. As virgens ficam pálidas. As flácidas, ávidas. Os homens observam, ninguém assume o que acontece do outro lado da janela. Mas as putas estão todas ali. Para realizar os seus mais sórdidos desejos. Os seus, os do seu namorado, os do trocador, os da moça ao lado. E isso incomoda.

Mas eu gosto de ver. Ver de perto o escracho que é. Observar cada fio de cabelo já deitado em tantos travesseiros. Cada jeito, cada artifício tão literal para fazer delas algo de atraente e tentar parecer um pouco menos barato.

Eu gosto de ver o prazer maior que o pudor.
Esse prazer pelo dinheiro, pelos espelhos, espelhos de motéis de guetos, prazer de bundas, de peitos, de vaidade. Pelos lençóis da cidade, pelas peles, por piedade, por favor.
O prazer pelo prazer. O gozo discriminado, proibido, julgado, mas que deus nenhum vai condenar, nem governo nenhum vai proibir, nem povo nenhum vai ignorar.
Eles não são loucos - também sabem do prazer que dá.

4 comentários:

Rute Magalhães disse...

Uau... =)

Céu disse...

Eu só dei pra ... ?
E vc?
Caracólis, perdi a conta!
Isso é sensacional!
Dá-lhe 2010!
Beijos

Unknown disse...

o mundo esta rendido ao valor do dinheiro...
agora... pagar para ter sexo nao é pra mim nem na gloria nem em lado nenhum

F...... disse...

Pode... Quero escrever um textosobre choppadas....
uau, mega anônimo.