Valeu, Wá!

O quão esquizofrênica é a relação de uma mulher com seu cabelo.
Por causa desses fios, vão-se milhares e milhares de reais em xampus, cremes pré-lavagem, cremes pós-lavagem, creme alisador, fortalecedor, condicionador, creme pré-secagem, pós-secagem, tá de sacanagem...
Fico tentando descobrir o que se passou na cabeça de Deus quando ele decidiu que as mulheres teriam cabelos compridos. – Deus ou alguma edição da Marie Claire.
Deve ter sido uma maneira de nos fazer pagar por nossos pecados. Não sei quanto ao mundo masculino, mas no feminino, todos os pecados são devidamente pagos através desses longos fios que carregamos.


Seus cabelos pareceram uma samambaia repicada justamente na manhã em que você acordou na casa dele?
Gastou centenas de Reais em uma escova definitiva-progressiva-radioativa e choveu no dia seguinte, te obrigando a sair de casa com uma touca plástica?
Levou o secador para sua viagem de negócios e ele explodiu na tomada do banheiro?
Pensa que é coincidência? Negativo.
Isso é o universo fazendo você pagar por cada pecadozinho que cometeu. Por ter tido inveja dos sapatos da melhor amiga, por ter desejado o namorado da vizinha, por ter comido chocolate demais, por ter dado de primeira, por ter boicotado a ginástica localizada.
E não há na natureza lei mais certa: faz aqui, paga-se lá. Lá, bem aí: em cima da sua cabeça, pode ter certeza.


Foi pensando nisso que no final de semana passado tomei uma decisão.
Saí de casa como quem vai na esquina, fingindo-me tranqüila e calma. Peguei o carro e levei-me ao shopping mais próximo. Estacionamento, escada rolante, coração cada vez mais rápido, mas feições de quem sabia o que estava fazendo. Não era nem comigo...
Salão de Beleza em neon azul no primeiro piso.

- Boa tarde. No queixo, por favor.

E entre olhares espantados de todo o salão, caíam aproximadamente doze dedos de cabelos pelo chão.
Assim foi. Deixei lá no cabeleireiro a cruz que toda mulher carrega. Mandei para a cucuia os pecados, Deus e a Marie Claire.
Rompi com as tendências milenares machistas e aprisionadoras!
Entrei num mundo novo: no mundo da moda outono-inverno 2007.
Aliás, eu e a Wanessa Camargo. – nem tudo é tão revolucionário quanto parece...