Meus
cabelos alisados ficam um arraso de rabo de cavalo. Gosto daquele efeito de
quem dormiu de cabelo preso, acordou e saiu sem se olhar no espelho. Mas isso é
só efeito. Na verdade, passo infinitos produtos para conseguir deixar tudo
marcado e com ar de sujo. Acho os cabelos organizados fio por fio
muito previsíveis. E eu, insistindo numa adolescência tardia sem razão
aparente, não suporto o previsível.
Fora dos
vidros da janela invadem a cidade poucos dezessete graus. E eu estou afim de
sair para tomar uma cerveja gelada que vai comprometer minha garganta e minha
disposição pelas próximas quarenta e oito horas – essa é a duração da minha
ressaca atualmente. There is so no free lunch. Eu gosto de cerveja no inverno
também. E eu gosto de cerveja para me embriagar já que o limite entre o beber
socialmente e o encher a cara foi mais uma mentira que inventaram para fazer a gente se sentir mal. Aí eles inventam as pílulas e o álcool que nos fazem bem de
novo e, imediatamente depois, mal outra vez. Eles inventam de tudo.
Vou à aula de
spinning e brinco com minha vida e a velocidade da bicicleta. Pedalo rápido com toda a
minha pouca força e me imagino passando por fotografias de um passado nem tão
distante, mas tão perdido no tempo. E por sonhos derretidos como cera de vela
deformada, que guardam apenas algumas cores. Passo rápido por sentimentos que
eu não gosto de olhar e por todos os abismos de onde me atirei a apenas cinco
minutos atrás. Depois a velocidade diminui, conforme o insano ser intitulado
professor manda a gente aumentar a carga daquela merda. Aí vou devagar e brinco
de câmera lenta pelas cenas com tinta fresca de tão recentes e felizes da minha
vida. Pisco vagarosamente como uma atriz famosa na tela de cinema e eu não sei de mais nada.
Porque esse é o meu estado atual.
Sei de
pouquíssimas coisas. Sei que a temperatura deve subir no final de semana. Que
cabelos alisados me dão mais auto confiança. Sei que eu não sei que merda é
essa toda que eu estou vivendo. Mas sei que só se encontra quem se perde.
E eu,
definitivamente, sou o exemplo de quem perdeu. Que alívio.
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