sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Alívio

Meus cabelos alisados ficam um arraso de rabo de cavalo. Gosto daquele efeito de quem dormiu de cabelo preso, acordou e saiu sem se olhar no espelho. Mas isso é só efeito. Na verdade, passo infinitos produtos para conseguir deixar tudo marcado e com ar de sujo. Acho os cabelos organizados fio por fio muito previsíveis. E eu, insistindo numa adolescência tardia sem razão aparente, não suporto o previsível.

Fora dos vidros da janela invadem a cidade poucos dezessete graus. E eu estou afim de sair para tomar uma cerveja gelada que vai comprometer minha garganta e minha disposição pelas próximas quarenta e oito horas – essa é a duração da minha ressaca atualmente. There is so no free lunch. Eu gosto de cerveja no inverno também. E eu gosto de cerveja para me embriagar já que o limite entre o beber socialmente e o encher a cara foi mais uma mentira que inventaram para fazer a gente se sentir mal. Aí eles inventam as pílulas e o álcool que nos fazem bem de novo e, imediatamente depois, mal outra vez. Eles inventam de tudo.

Vou à aula de spinning e brinco com minha vida e a velocidade da bicicleta. Pedalo rápido com toda a minha pouca força e me imagino passando por fotografias de um passado nem tão distante, mas tão perdido no tempo. E por sonhos derretidos como cera de vela deformada, que guardam apenas algumas cores. Passo rápido por sentimentos que eu não gosto de olhar e por todos os abismos de onde me atirei a apenas cinco minutos atrás. Depois a velocidade diminui, conforme o insano ser intitulado professor manda a gente aumentar a carga daquela merda. Aí vou devagar e brinco de câmera lenta pelas cenas com tinta fresca de tão recentes e felizes da minha vida. Pisco vagarosamente como uma atriz famosa na tela de cinema e eu não sei de mais nada. Porque esse é o meu estado atual.

Sei de pouquíssimas coisas. Sei que a temperatura deve subir no final de semana. Que cabelos alisados me dão mais auto confiança. Sei que eu não sei que merda é essa toda que eu estou vivendo. Mas sei que só se encontra quem se perde.

E eu, definitivamente, sou o exemplo de quem perdeu. Que alívio.

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