quinta-feira, 7 de agosto de 2014

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Eu preciso de uns violinos.
É isso. Alguns violinos com aqueles acordes que não entendo, mas que me fazem dançar.
Eles tocam ao fundo enquanto eu escrevo a minha tristeza e, assim, tudo fica roxo. Porque a minha tristeza é roxa e laranja.
Eu preciso de uma máquina fotográfica daquelas analógicas.
Com um filme de vinte e quatro poses para eu selecionar melhor as fotos que for tirar.
Porque as máquinas digitais abrem possibilidades demais e deixam baratas e descartáveis as cenas retratadas.
Eu escolheria cada foto para capturar cada sorriso solto e grudá-los na minha parede branca e vazia.
Se possível, queria luvas de lã também.
O inverno congela meus dedos e, eu já percebi, com dedos congelados, não consigo aquecer meu coração.
Existe uma pequena possibilidade de a culpa do frio do coração não ser exatamente dos dedos congelados.
Mas eu não quero pensar nisso.
Coloco esta ponderação no saco das coisas sobre as quais não quero pensar.
Embora eu sinta cada uma delas, porque o saco de coisas sobre as quais não quero sentir parece não fechar mais.
E eu vivo a deliciosa e verdadeira ditadura do sentimento. Sinto tudo. Sinto tanto.

Eu sinto muito.

Preciso de uma dose de conhaque, se não houver luvas.
Eu queria ser salgada o suficiente para ser madura e orgulhosa das rugas que se esboçam no meu rosto e recebem reflexos do copo com uma bebida quente, tipo conhaque.
Mas é mentira. Não tenho esse sal.
Na maioria das vezes, sou desajeitada e mal resolvida, enchendo o rosto de pó para disfarçar os traços fincados que se abrem ao redor da boca e dos olhos.
E eu não bebo bebidas quentes. Só cerveja.
Estou em crise com os artistas do meu Ipod, que só dizem o que querem e não o que quero ouvir.
Abandonei todos eles para dar-lhes uma lição – eu ainda acredito nas lições que os abandonos trazem.
Preciso de baterias aceleradas e eles tocam uma mistura de gemido com guitarra molhada.
E eu sou incapaz de escolher uma música. Gosto que o aleatório me surpreenda.
Gosto também que o ônibus me surpreenda e pegue o caminho errado jogando um vento inesperado na minha cara.
E quando a minha tristeza me surpreende ao passar de roxa para laranja, trazendo as cenas aquecidas da minha saudade.
Deixando descansar as mais geladas, que são roxas.
No laranja, moram os braços, a mensagem que fala com o piloto para não deixar meu avião cair, os pés de micróbio que eu tenho, o filme que pegamos pela metade na TV de madrugada.
No roxo, não. Lá, enfileira-se o coração que bate forte quando ele está chegando. O cheiro que impregna minha respiração e desce até o estômago. Os ombros que me salvaram de tudo.

Faltam os violinos. 

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