Eu preciso
de uns violinos.
É isso.
Alguns violinos com aqueles acordes que não entendo, mas que me fazem dançar.
Eles tocam
ao fundo enquanto eu escrevo a minha tristeza e, assim, tudo fica roxo. Porque
a minha tristeza é roxa e laranja.
Eu preciso
de uma máquina fotográfica daquelas analógicas.
Com um
filme de vinte e quatro poses para eu selecionar melhor as fotos que for tirar.
Porque as
máquinas digitais abrem possibilidades demais e deixam baratas e descartáveis
as cenas retratadas.
Eu
escolheria cada foto para capturar cada sorriso solto e grudá-los na minha
parede branca e vazia.
Se
possível, queria luvas de lã também.
O inverno
congela meus dedos e, eu já percebi, com dedos congelados, não consigo aquecer
meu coração.
Existe uma
pequena possibilidade de a culpa do frio do coração não ser exatamente dos
dedos congelados.
Mas eu não
quero pensar nisso.
Coloco esta
ponderação no saco das coisas sobre as quais não quero pensar.
Embora eu
sinta cada uma delas, porque o saco de coisas sobre as quais não quero sentir parece
não fechar mais.
E eu vivo a
deliciosa e verdadeira ditadura do sentimento. Sinto tudo. Sinto tanto.
Eu sinto
muito.
Preciso de
uma dose de conhaque, se não houver luvas.
Eu queria
ser salgada o suficiente para ser madura e orgulhosa das rugas que se esboçam
no meu rosto e recebem reflexos do copo com uma bebida quente, tipo conhaque.
Mas é
mentira. Não tenho esse sal.
Na maioria
das vezes, sou desajeitada e mal resolvida, enchendo o rosto de pó para
disfarçar os traços fincados que se abrem ao redor da boca e dos olhos.
E eu não
bebo bebidas quentes. Só cerveja.
Estou em
crise com os artistas do meu Ipod, que só dizem o que querem e não o que quero
ouvir.
Abandonei
todos eles para dar-lhes uma lição – eu ainda acredito nas lições que os
abandonos trazem.
Preciso de
baterias aceleradas e eles tocam uma mistura de gemido com guitarra molhada.
E eu sou
incapaz de escolher uma música. Gosto que o aleatório me surpreenda.
Gosto
também que o ônibus me surpreenda e pegue o caminho errado jogando um vento
inesperado na minha cara.
E quando a
minha tristeza me surpreende ao passar de roxa para laranja, trazendo as cenas aquecidas
da minha saudade.
Deixando
descansar as mais geladas, que são roxas.
No laranja,
moram os braços, a mensagem que fala com o piloto para não deixar meu avião
cair, os pés de micróbio que eu tenho, o filme que pegamos pela metade na TV de
madrugada.
No roxo,
não. Lá, enfileira-se o coração que bate forte quando ele está chegando. O
cheiro que impregna minha respiração e desce até o estômago. Os ombros que me
salvaram de tudo.
Faltam os
violinos.
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