Os meus
ombros doem. Não sou de ter dor nas costas, ou talvez não tenha sido até aqui.
Muitas
coisas eu não fui e agora sou. Então, pode ser que também seja uma pessoa com
dor nos ombros agora.
Acordo na
minha cama de casal que comprei para a gente e onde agora me deito sozinha. Os
meus um e sessenta tornam o colchão maior do que ele é e a cama se transforma
em um oceano onde posso me perder, sem me afogar. Só que eu não gosto dessa
sensação e todos os dias durmo com um peixe de pelúcia, cinco almofadas, três
controles remotos e o celular dividindo a cama comigo.
Aí eu
acordo e olho o meu corpo que agora é mais rígido, embora mais envelhecido.
Quando
tento me levantar, os ombros reclamam e eu pondero sobre a possibilidade de
ainda estar carregando coisas demais sobre eles.
Inevitável,
aliás, porque é impossível deixar os fins que coleciono pelos cantos. Sou
obrigada a carregar tudo comigo e uma hora, obviamente, a coisa pesa.
Meus dias
são agora mornos e densos e eu mal sinto o tempo passar. Fico anestesiada
e me esqueço do que se passou a apenas cinco minutos atrás.
Nada é
muito importante neste momento a não ser a própria passagem do tempo.
Conto com o
decorrer dos dias para me reencontrar e me reconhecer – oi, sou uma pessoa que
tem dor nas costas.
Enquanto
isso não acontece, vou me estranhando. E tateando a possibilidade que se
esconde no futuro.
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