sexta-feira, 18 de julho de 2014

As faltas

A falta da conversa final pode ser um dos motivos. Sempre nos ensinaram que para terminar, deveria haver uma conversa mesmo quando não houvesse mais nada a ser dito.
Mas você nunca soube dessas coisas de relacionamento que sempre nos ensinaram, mesmo. Todas as coisas que você fez, as boas e as ruins, me mostram isso o tempo todo.
Terminar uma construção enorme dessas por mensagem é, no mínimo, covarde e confortável.
Talvez a falta destas palavras ditas – que me viciam tanto quanto as escritas – tenham me engasgado.

Ou a tristeza é tão enorme que não encontra canal para extravasar. E na hora que sair, será um jato potente que vai arrebentar toda a superfície, mais do que deveria.
Tenho medo disso acontecer e fico tentando puxar qualquer fio dessa minha tristeza para tentar drená-la devagar e com mais segurança. Não consigo.
A tristeza é enorme e mora dentro de mim, mas não sai. Eu não derramei uma lágrima.

A sensação é de andar com uma bandeja que carrega cinco mil quinquilharias em uma torre que vai até o céu. Equilibram-se os seus sorrisos que apertam os olhos, nossos passos por Nova Iorque, a foto três por quatro que tiramos juntos na cabine automática do shopping, as manhãs cobertas com seus beijos, e os mais pesados pingos de futuro. Aquele futuro que não vai mais acontecer e me perturba, rangendo entre as memórias que se empilham para cima e eu tento equilibrar para não deixar nem um minuto cair. Porque se cair, desmorona e eu, talvez, não seja capaz de me reerguer.

A estranha falta do desespero, do choro, do descontrole talvez seja resultado de um sentimento de alívio que, mesmo com culpa, não pode ser negado. Eu estou aliviada por ter perdido você e isso se mistura com uma pena e um sentimento de fracasso incabível. Mas eu estou aliviada porque eu já sabia que esse fim chegaria e, pelo menos, agora sei que chegou de uma vez. Eu sabia porque muitas foram as cenas que são distantes do amor que eu bordei para mim mesma. Porque eram cenas com cores diferentes das quais eu realmente busco, das que tentei tanto te mostrar, mas você nunca enxergou. Aí me alivia e eu não desespero como acho que deveria. E me culpo e fico tentando buscar esse desespero em uma letra de música, um sonho, esse texto aqui.


Por mais machucada que esteja, não me resta muito mais. Todas, absolutamente todas as certezas que eu tive e construí e preservei, caem impiedosamente sobre minha cabeça. E, loucamente, eu sigo em frente. Com a falta da perspectiva, a falta do teto, a falta de você e, perturbadoramente, a falta do choro.

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