sexta-feira, 8 de junho de 2012

Pés quentes

Pode ter sido a falta do que fazer de terça-feira. O vazio nos pensamentos nunca é bom sinal. Pode ter sido o baú digital que encontrei, com fotos de como a vida é para alguns. De como a vida é na Arábia Saudita. De como a vida é com muita calma e pouco trauma.


Depois ainda veio a Legião Urbana, acesa na minha TV.
Aqueles versos que cantaram meus anos há dez anos. Pode ter sido isso. Aquela vontade jovem, ainda não lapidada pelo impossível: mas temos muito tempo. Temos todo o tempo do mundo.

Pode não ter sido nada disso e ser um defeito meu, simplesmente. Não, eu não sei viver em paz. Já ouvi muito que enjoo de tudo. E, embora eu tenha enjoado de ouvir isso também, talvez faça algum sentido.
E então eu sinto saudade de um tempo em que eu me enfiava num avião, sozinha, e cruzava o oceano para andar de balão. Tento lembrar quem eu era para ter tido coragem de ir ainda outra vez para conhecer os castelos medievais franceses.
Hoje, eu tenho medo até da ponte aérea, apesar de esconder isso com toda a minha fraqueza. Não tenho medo do escuro, mas deixe as luzes acesas agora.

Pode ter sido a incerteza de tudo o que conquistei. Que merda é conquistar tudo e não ter certeza. Só as pessoas medíocres devem ser assim.

Pode ter sido a volta do par de olhos azuis alcoolizados. E todo aquele rock and roll que eles poderiam ser na minha vida. Mas eu não sei exatamente o que poderiam ser na minha vida. Se soubesse exatamente, saberia que não passaria de outro cara chato em uma nova esquina.
Mas a volta dos olhos bêbados acaba comigo.

Não sou boa de seguir em frente com tantas transversais suculentas à esquerda, à direita, com o conhecido escondido no desconhecido. Meus pés continuam a caminhada, mas minha cabeça fica em cada uma destas esquinas. Imaginando como seria a Arábia Saudita, ou a vida em Paris, ou o contraste com olhos muito azuis numa pista de dança até as seis.

Minha coleção de possibilidades é o que tenho de mais valioso no momento, é o meu orgulho para o mundo, é minha saída, minha fuga e a mais contundente prova da minha covardia.
Está tudo certo na minha vida e isso é o que tenho de mais errado.

Como deve ser bom fechar os olhos e dormir. Se satisfazer com tudo isso e não dar falta do resto. Juntar dinheiro para comprar uma geladeira, ter o nome dentro de uma caixinha de organograma, com linhas orgulhosas em cima dos nomes das outras pessoas. Fazer planos, sossegar em um só par de ombros porque eles são suficientes. Por que eu não consigo? Sempre chego ao ponto de dar o nó e saio correndo. Não dou nó nenhum, me mando, viro mundo.

Deve ser o inverno.

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