sexta-feira, 22 de junho de 2012

O jeito que tem

Foi agora, perto dos trinta, que eu descobri o medo.

Nunca fui dessas corajosas de dar inveja, mas sempre me virei bem. O medo que tive era aquele de reflexo, que todo mundo (ou quase todo mundo) teria; Medo de barulho à noite, medo de machucado aberto, medo de cachorro bravo.
Fora isso, eu sempre fui a pessoa que ia até o fim. Eu que me arriscava e roubava as provas na véspera para salvar a minha pele e a de uma galera no final do ano. Fui a primeira a abandonar um sonho de ângulos retos chamado Arquitetura, iniciando um efeito dominó impressionante logo atrás de mim. Era a companhia certa para acampar por quinze dias sem dinheiro, sem planos, só com amor.
Até os vinte e poucos anos eu era a que não tinha medo de ficar com cabelos loiros, lisos, ruins ou sem cabelos. Meio que na quinta marcha sem retrovisor, sabe?

Mas agora, perto dos trinta, eu estou apavorada.
Porque se antes eu escolhia a cor dos meus cabelos, agora eles começam a ser brancos sem eu escolher.
Brancos, gente.
O três que chega depressa à casa da esquerda vem pesado. E me força a olhar para trás e reconhecer uma conduta tão destrutiva e também prazerosa, que sinto culpa.
Culpa e medo. Medo de continuar seguindo e ter que tomar novas decisões, enormes, desta vez. Há tempos, as decisões eram pequenininhas, reversíveis, era só de sacanagem – ou, pelo menos, apareciam assim para mim.
Agora não, cara. Agora eu tenho a sensação de que o cimento está finalmente secando e se eu não tomar alguma providência rápida, ele vai enrijecer e eu não vou mais poder mudar nada. E isso me dá um medo imensurável.

O pior de tudo é que não vai ter jeito.
E o jeito que tem, eu vou ter que descobrir dia após dia, com ou sem medo, até o momento que os anos não chegarem mais para mim.

4 comentários:

Line disse...

Fica tranquila que falta menos pros meus. Aí eu te conto como é....

Lex disse...

Passeando por aqui vejo essa linda prosa...

Só pessoas especiais conseguem exprimir sentimentos que são inerentes a todos nós...

Se isso servir de consolo, também estou no mesmo barco, rsrsrs... bjss!

Daniela S. disse...

Passei por essa há 6 anos. Estou quase no 4 à esquerda e perdi o medo.
Naquele tempo remoto, andava tão à flor da pele que tinha medo era de mim. Acredite: essa é a melhor idade.
Mas não tema, não deixe um cabelinho (ou +) branco te tirar o foco. Se joga, bonita!!

naluz oliveira disse...

risca o cimento pra voce lembrar..e pensa: jajá tem chão mais fácil pra caminhar