segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Setembro

A bandeira do Brasil, pendurada por algum motivo no Aterro do Flamengo, não se move há mais de uma semana. Não tem vento naquela cidade. Não tem chuva, não tem trégua. O calor finalmente chegou e deixa o ar pesado, castigando com um inferno antecipado os pecados cometidos.


Às 7 da manhã, a promiscuidade é menor, é verdade. Talvez por isso, o clima ainda seja mais leve. Mas nem assim eu me salvo e consigo chegar ao trabalho do jeito que saí de casa – penteada, perfumada, passada.

A vaidade que me falta me permite prender os cabelos para cima de uma forma desuniforme, mas refrescante.

Levanto os calcanhares do sapato em busca de algum alívio para os pés suados e fedidos.
Agradeço estar sozinha.

Os poros se escancaram e deixam úmidos os meus braços.
Eu não sou a única. A cena em volta, meio alaranjada de tão quente, também pesa. E eu, eu fico apaixonada. É nesta época que o sangue também chega aos pelos e os deixa arrepiados.
Da nuca às orelhas. O sol das seis da noite ilumina meus olhos e eu me reconheço neste lugar, que me guarda desde pequenininha.

Na volta, a bandeira do Brasil permanece na mesma posição.
Sem brecha, refresco, é obrigada a ficar lá em cima, parada.

Eu sinto pena por ela, mas por pouco tempo. Logo percebo que a única diferença que nos separa é que, ao meu mastro, onde fico estagnada o dia todo, a mercê dos ventos de alguém, eu subo de elevador. É no quarto andar do Centro do Rio.



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