quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Estreia passional

Você é prático, pragmático, racional e se acha foda por isso. Eu sempre me achei foda por isso. Não ter “razão do coração”. Sempre resolver tudo com a cabeça, bem racional. Eu sou bem assim – enchia o peito para declarar.


Só que o nosso lado racional é tipo o bêbado de bar.
Você está na merda e ele aparece. Cambaleando, chega e te fala um monte de coisas que você deve fazer - se valoriza!, corta o mal pela raiz!, acredita!.

Todo aquele discurso é muito bonito e faz você parar para pensar.
O bêbado sempre está no boteco quando você está na merda. E a razão sempre aparece quando eu estou em crise.
Eles enchem os ouvidos das verdades que a gente não quer ouvir. Eles ignoram o coração e te fazem acreditar em coisas lógicas, prováveis e matemáticas.

Então você toma um porre daquilo. Porra! É isso, me sinto bem melhor!
Você se convence, aprende, muda. Vai dormir pesada de cana e culpa. Encontra todas as decisões que devia, se liberta, é isso aí: seja racional, free!
Tudo lindo... até, um belo dia, o coração gritar.

O meu coração gritou e eu não conhecia esse som. Pela primeira vez, senti tudo apertar-se por dentro. Porque dói, desespera, desilude. Perdida, vaguei em busca daquelas razões que me fizeram forte por tanto tempo – as probabilidades, equações, direções. Vou ao bar procurar pelo filho da puta do bêbado para tentar ouvir outras coisas que me aliviassem de novo: mas ele não está mais lá.

Porque bêbado de bar é tipo o nosso lado racional. E essa é toda a graça: eles te fodem, te jogam a realidade na cara e se mandam.

E aí, você já é “free”, porque acreditou que seria melhor ser moderninha, independente e sem paranóias. Mas e toda aquela razão que te convenceu? Escafedeu-se. Todo aquele papo que te fez forte, decidida, cabeça erguida? Pro inferno. Quando o coração grita, tudo isso some e não há racionalidade no mundo que conforte. É você com você mesmo. Eu não sabia disso...

Eu tentei distrações das mais aleatórias: curso de Excel, cortar o cabelo, sair pela noite. Nada alivia a pressão do peito. Não há razão que volte e traga paz.
E você, tão racional, não consegue agüentar: se rende ao coração.

Mesmo que, diferente do bêbado, tão esperto com razões tão reais, o coração seja cego, burro e surdo, você se rende a ele. E o pior: ainda fica feliz.

Nenhum comentário: