Eu estou prestes a me render.
Estou quase me entregando, me jogando. O abismo pisca o olho para mim desde o início e exala aquele cheiro de queda que tanto me seduz.
A altura me dá medo, mas os ventos que colocam meus cabelos para trás dos ombros me enlouquecem.
Com os braços abertos para forçar o equilíbrio, eu ando rente à borda. Sob meus pés, metade chão, metade queda. Um passo atrás do outro, me distancio cada vez mais do que sou agora – uma porrada de fotografia lembrando o passado e ditando o futuro. Tudo pronto, feito, esperando a hora de ser revelado.
O abismo sopra mais uma vez e traz o gosto da solidão. E eu gosto.
O silêncio que acompanha me dá frio na barriga e excita. Eu não sou de ninguém.
Claro que a história, prestes a ficar para trás, me comove. Os beijos, os sonhos... ah, os sonhos. Mas a vida não se faz de sonho. Porque sonho, só é sonho enquanto não acontece. Depois vira realidade. E a realidade, essa sim, pode ser um caos.
Tenho tido crises de claustrofobia, insônia e histeria. Tenho sido doce, moça e laço.
Agora, pronto. Já experimentei tudo isso e ninguém mais pode me dizer que não sei.
Eu sei. Eu sei, eu posso, mas eu não quero.
Vou parar a caminhada pela beira e virar de frente para a queda. Vou fechar os olhos e deixar Little girl tocar da minha cabeça até os pés.
E enquanto o presente for ficando para trás, cada vez mais, vou estar inteira sendo levada pelo ar.
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