terça-feira, 11 de outubro de 2011

Outra vez

Ela só queria uma história simples. Com início, meio e final feliz.

Estava cansada de tanta conversa vazia, sem vida, sofrida. Queria se acomodar ao lado dele e seguir de mãos dadas. Dividindo os sonhos e os planos. Somando os sorrisos e as vidas. Era só isso.

Então, ela sentou e recortou com cuidado corações de papel para a sua própria história.
Escolheu do melhor material, todas as cores – roxo, rosa e azul.
Dobrou e cortou com cuidado, mas sem qualquer perfeição. Porque, exatamente igual a todo o resto, ela nunca foi perfeita. Ao contrário, ainda tinha arestas sem qualquer lapidação, mas absolutamente inofensivas. Nunca o machucaria.

Os corações enfeitavam as páginas do livro com as cenas que ela vivia. E decoravam o vazio que o escuro poderia trazer.
Não tinha mais medo. Não tinha mais o desconforto que vem da falta de verdade. Só havia o amor dela, quase que infantil: o maior amor do mundo.

O tempo passou e, com ele, o ego, o orgulho, o frio, o vento. Alguns dos corações, tão bem colocados, foram descolados agressivamente. Ficaram marcas e alguns papéis amassados pelo chão.
Ela tentava recuperá-los, mas até o coração dela, o de verdade, já se rasgava.
Era preciso crescer, aprender, tomar decisões rígidas e rápidas – daquelas que ela pensou que não teria mais de encontrar.
As cores, a forma, os recortes foram todos embora.
E a história que ela tanto queria teve início, meio e final. Mas sem ser feliz.

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