Eu queria estar berrando junto deles.
Vestida de vermelho, em frente ao palácio Tiradentes, carregando uma bandeira do Brasil.
Eu queria estar no meio desta multidão... o bombeiro-o é meu amigo-o, mexeu com ele, mexeu co-mi-go. Acreditando tanto, que a alma chegaria a sair do corpo.
Só que eu não estou. Então, no horário do almoço, passo por lá. Não tem ninguém como eu lá.
Paro e finjo esperar o sinal ficar vermelho. E ele fica, depois fica verde, e vermelho de novo, e eu continuo lá. Fingindo.
Como quem tem pressa e rumo, me misturo àquelas pessoas e deixo-me entranhar daquele suor, daquele grito. Eu me arrepio, meus olhos se enchem d’água: é nisso que eu acredito, caralho!
E todo o dia é assim... Caminho até o palácio e quando avisto a multidão, vibro discretamente: isso! Continuem aí! Nós não vamos ceder!
Mas não tem “nós” nenhum.
Eu não sou forte o bastante: alô, é da empresa? Avisa aí que eu vou marchar com os bombeiros até Brasília. Eu vou lutar por salários melhores, vou xingar os políticos safados, vou fazer parte disso!
Mas depois eu acordo. Vou embora conformada, porque eu sou uma conformada e começo a pensar que estou atrasada, tenho um ponto para bater, tenho gente a obedecer.
Não era isso que eu tinha imaginado. Não era assim que eu queria ser-quando-crescer.
Da última vez, então, resolvi ser mais ousada. Ignorei os saltos que me sustentam e dizem o quão alienada posso ser. Ignorei os colegas de mesa que passavam por ali. Ignorei o crachá e todo o resto e falei com eles. Assinei um abaixo-assinado, o outro, e outro. Comprei uma fita vermelha e pendurei no meu carro. Me senti melhor, mas ainda não foi suficiente. Ainda quero um tambor, uma camisa vermelha e o berro explodindo na garganta.
Um comentário:
Adorei!
Eu também me sinto assim às vezes.
Fico querendo fazer parte destas manifestações mas só consigo me manifestar por e-mails pela internet.
Mas o melhor é tentar se envolver mesmo. Quando estamos lá, a emoção é muito maior.
Bjos e adorei a sua retomada.
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