Às vezes fica quente a ponto de eu querer explodir.
Perco o sono de ansiedade, pensando que enquanto estou na minha humilde cama me preparando para meu amanhã ordinário, o mundo todo acontece.
Minhas pupilas se dilatam, eu suo levanto deito sento e não passa. Fica tudo tão quente, que quase entro em ebulição.
Neste exato momento, no milésimo de segundo que antecede a fervura, algo vem e apaga o fogo. E eu não borbulho, não fervo. Se chegasse à ebulição, chutaria tudo para o alto e não estaria segunda de manhã vestindo roupas envelopadas.
Teria ligado “oi, tudo bem? É que eu não vou hoje, nem amanhã, nem depois, ok? Resolvi ferver.”
Mas nada disso aconteceu e cá estou, com uma roupa parda e sapatinhos educados.
E eu sei que nunca vou ferver. Não mais. Porque quanto maior o tempo que passa, menos chance de borbulhar até me derramar. Sempre vem o algo que apaga o fogo evitando a sujeira que faria – e esse algo pode ser cagaço, idade ou estabilidade (o que são praticamente as mesmas coisas).
Afinal de contas, migrei de vinte-e-poucos anos (quando ferver ainda era plausível) para quase-trinta. E quase-trintas não mais se esquentam até borbulhar e evaporar, sumir. Quase-trintas já optam por fogo baixo num fogão de seis bocas que aquece o arroz, o pudim e as mamadeiras.
Quase-trintas, por mais que se inquietem, têm que forçar fechar o olho e deixar o calor ir embora. Para manter a água morna.
(Mesmo sabendo que água morna não vai queimar, nem curar. Ou limpar, cozinhar. Enfim, não serve nem para fazer chá.)
3 comentários:
Putaquepariu...Eu penso a mesma coisa e dá um desespero louco!
Nunca imaginei que fosse assim... Achei que seria tranquilão, mas não é... É desdesperador não ter mais coragem de jogar tudo pro alto como já fizemos tantas e tantas vezes.... Pra onde foi toda aquela coragem?
Um grande AH! de exclamação com uma grande pitada de admiração. Faço uma vénina, está genial. Parabéns!
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