Soldados

Eu já fui um soldado deste exército.
Batalhava contra outras tropas que disputavam sempre a mesma coisa.
Eu cobria pés cansados com saltos, botas e outros artifícios que disfarçavam o cansaço - peito para cima, rímel nos olhos, papo interessante. E saíamos nós, em bando, caminhando disciplinadamente ao som da nossa marcha tuntz-tuntz-tuntz.

Eu fui parte deste exército que, como todos os exércitos, recruta pessoas que carregam um só desejo: deixar de servir. Eu também queria, mas era difícil assumir. E minha honra? Meu patriotismo, meu orgulho? Ou pior, e o medo de experimentar o que tem lá fora? Toda a subestimação que envolve viver uma relação, todo o sofrimento, a insegurança, a perda da personalidade! Então eu continuava soldado.

Às vezes as batalhas eram fáceis. No meu exército, contávamos com sorrisos muito simpáticos e cabeças muito pensantes - era mole conquistar novos territórios, trocar telefones e beijos. Mas outras vezes, apareciam tropas muito malhadas e definidas, com uma agressividade exagerada e a briga era mais complicada.
Entre lágrimas e gargalhadas, a gente ia lutando. Cada dia, uma pista diferente e o mesmo combustível: álcool.

Hoje eu não sou mais soldado. Abandonei minha equipe e deixei de lutar. Fui experimentar o que tem do outro lado e acabei ficando. Descobri que do outro lado tem outra batalha, de fato. Com marcas e choros que podem ser ainda mais profundos do que os que eu já conhecia. Mas esta é uma batalha que me faz a pessoa mais feliz do mundo e me faz descobrir que eu era boa soldada, mas sou muito melhor namorada.
Me rendi.