terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Ainda somos os mesmos e vivemos...

Eles tinham 14 anos. A Laura e o Lauro.
Cursavam a oitava série (naquela época ainda era série) e tinham passado aquela semana ansiosos pela festinha americana que rolaria no sábado.
A turma inteira estaria lá: a mãe dele o deixara ir sozinho, ela já tinha uma roupa nova para usar.
E na escola, só se falava nisso. Vai levar o que? Coca-cola e você?

Alguns dias depois e chegava o tão esperado sábado. Eles, a Laura e o Lauro, eram namoradinhos. Todo mundo sabia e todo mundo adorava. Laura e Lauro, bem assim, combinando, chegaram à festa ao mesmo tempo.
- Eles são namorados! Eles dão beijo? Beijo de língua?
Eram a sensação.

No início da festa, Fandangos e Ovitos eram servidos a todo o instante para acompanhar os fartos goles de Guaraná e Coca-cola que aliviavam o calor daquela tarde - porque festa de adolescente acontece durante o dia.

Tocavam as músicas da novela das oito num Ipod arranjado em cima de uma mesinha, enquanto as meninas aguardavam os meninos se organizarem para o “Verdade ou Conseqüência” começar. – é verdade que você gosta do Gabriel Braga?
O casalzinho só observava e bebia refrigerante, não brincava.

Pouco mais tarde, todos suados se improvisaram em volta de uma mesa para cantar o parabéns.
Em seguida, os doces vinham servidos e a esta altura, o Guaraná todo já fazia efeito: estavam meninas e meninos muito soltos, rindo, interagindo.
Depois dos brigadeiros caseiros servidos pela mãe do aniversariante, era chegada a hora mais esperada: a música lenta!
Formavam-se todos os pares, aqueles que se olhavam desde o início do ano, aqueles que acabavam de se conhecer e a Laura e o Lauro.

Já eram quase nove da noite e, em breve, o interfone começaria a tocar, denunciando mães aflitas na portaria para buscar suas crianças.
O clima foi ficando tenso, as meninas com mais expectativa e os meninos mais nervosos, até que, durante a quarta música lenta, a Laura se desequilibrou e pisou no pé do Lauro.

Tinha sido sem querer, tinha sido o Guaraná, tinha sido o cansaço... Mas o menino não perdoou. Muito novo e imaturo ainda, abandonou a pista de dança e provocou verdadeiro alvoroço entre todos os colegas. – O que está acontecendo?
A cena típica de festas adolescentes estava finalmente formada: os meninos ao redor dele, as meninas, dela, que chorava compulsivamente.
Vez ou outra, um menino vinha falar com ela ou uma das meninas ia falar com ele... Em vão! O drama duraria até segunda-feira, na escola, quando eles se entenderiam durante o recreio.

Nesta época de inexperiência e infantilidade, era do fim da festa e o fim do mundo.
E também foi o assunto da semana seguinte inteira, nos intervalos das aulas, na saída, nas outras festas.

Agora, que todos somos adultos e, com quase trinta anos, as coisas são bem diferentes: não tem Guaraná, só Skol. As cenas dramáticas são em frente a colegas do trabalho e, ao invés do recreio, viram o assunto das baias do escritório no dia seguinte.

4 comentários:

Mariah disse...

Adorei!!! Bjos

Céu disse...

E hoje temos Ipod, ao invés de fitas cassetes gravadas do rádio...
Esse texto me fez lembrar um dos meus últimos casos que durou 5 minutos... Conheci no colégio, dancei na festa americana e terminei quando sem querer bati com meu pé em seu braço...
15 anos depois, resolvemos tudo isso na cama...

Céu disse...

É, são 15 anos...realmente durou um pouco mais que 5 minutos...

Mariah disse...

É...é claro que ainda tem um fiozinho da corda que não arrebentou. Mas estou trabalhando pra mudar isso...rs
Beijo! Brigada por tudo!