Eu me perdi. Como quem perde os óculos escuros, a carteira de identidade ou o telefone celular e mal sabe onde, eu me perdi.
Em algum momento, passei a me deixar, aos poucos, em diversos lugares e agora me entrego à única coisa que me envolve - um rodamoinho brutal e violento, que bate no meu rosto e estala a realidade: você se perdeu.
Todas as confusões que carrego, variam entre os ombros e o estômago e uma náusea se instala, fazendo dos meus sentimentos – aqueles reais, úmidos, os fatais – uma mistura difícil de expor a qualquer um. E eu vivo em um mundo, onde todas as pessoas não passam de qualquer um.
Vão-se os anos, ficam os rastros do tempo, deixando sempre mais rugas e mais marcas – nos dedos, nos pés, na fé. E a cada dia, vou me deixando em mais lugares. Em um bar, no corredor do seu apartamento, numa baliza apertada em Ipanema.
Aquela eu, de saias, sapato boneca e trança, ficou em alguma esquina.
No sinal vermelho, largo outra eu, de lápis de olho borrado, salto quebrado e decote exagerado. E assim vou me deixando, um pouquinho em cada parte da estrada. Talvez seja uma estratégia barata; eu não quero me encontrar, quero ser encontrada. E, para isso, povôo cada metro quadrado da cidade, tornando muito fácil esbarrar comigo em quase todos os lugares.
Mas se for para eu me encontrar, aí a tarefa tange o impossível. São muitas já deixadas, perdidas, e eu não posso voltar, não posso parar. Vou me deixando pelo caminho e vivo com o resto do que consigo inventar. Hoje, sou isso: mera invenção.
Dos meus tornozelos aos ombros; para os seus olhos, sou vento. Sou ainda menos: um corpo lotado de reflexões irreversíveis, embriagantes. Carrego uma cabeça pesada, entupida de um conhecimento inútil, que só serve para me arrancar cada vez mais do senso comum e me tornar uma pessoa muito mais complicada. Mas esses pensamentos, ah, esses pensamentos eu não largo em qualquer lugar. Deixo um pouco de mim, mas, como se fossem minha essência, sigo carregando esse cansativo conhecimento, acreditando que, um dia, ele vai me levar a algum lugar.
Mas que lugar?
Pura balela.
Antes tivesse largado os pensamentos um por um, para dar mais espaço para as outras que há de mim. Talvez, assim, não teria precisado sair me largando por aí.
Sigo andando.
Às vezes me pego ajoelhada na estrada. Com lágrimas nos olhos e as mãos raladas, clamando por alguma resposta: onde está a época da simplicidade?
Deixei-a em algum lugar, provavelmente. Em algum lugar onde as pessoas acompanham melhor a difícil valsa que é a vida, com seu par, bem no tom e vestido bombom.
E lá, lá nessa época de simplicidade que eu perdi, deve haver uma de mim que é, pelo menos, um pouco mais feliz.
Em algum momento, passei a me deixar, aos poucos, em diversos lugares e agora me entrego à única coisa que me envolve - um rodamoinho brutal e violento, que bate no meu rosto e estala a realidade: você se perdeu.
Todas as confusões que carrego, variam entre os ombros e o estômago e uma náusea se instala, fazendo dos meus sentimentos – aqueles reais, úmidos, os fatais – uma mistura difícil de expor a qualquer um. E eu vivo em um mundo, onde todas as pessoas não passam de qualquer um.
Vão-se os anos, ficam os rastros do tempo, deixando sempre mais rugas e mais marcas – nos dedos, nos pés, na fé. E a cada dia, vou me deixando em mais lugares. Em um bar, no corredor do seu apartamento, numa baliza apertada em Ipanema.
Aquela eu, de saias, sapato boneca e trança, ficou em alguma esquina.
No sinal vermelho, largo outra eu, de lápis de olho borrado, salto quebrado e decote exagerado. E assim vou me deixando, um pouquinho em cada parte da estrada. Talvez seja uma estratégia barata; eu não quero me encontrar, quero ser encontrada. E, para isso, povôo cada metro quadrado da cidade, tornando muito fácil esbarrar comigo em quase todos os lugares.
Mas se for para eu me encontrar, aí a tarefa tange o impossível. São muitas já deixadas, perdidas, e eu não posso voltar, não posso parar. Vou me deixando pelo caminho e vivo com o resto do que consigo inventar. Hoje, sou isso: mera invenção.
Dos meus tornozelos aos ombros; para os seus olhos, sou vento. Sou ainda menos: um corpo lotado de reflexões irreversíveis, embriagantes. Carrego uma cabeça pesada, entupida de um conhecimento inútil, que só serve para me arrancar cada vez mais do senso comum e me tornar uma pessoa muito mais complicada. Mas esses pensamentos, ah, esses pensamentos eu não largo em qualquer lugar. Deixo um pouco de mim, mas, como se fossem minha essência, sigo carregando esse cansativo conhecimento, acreditando que, um dia, ele vai me levar a algum lugar.
Mas que lugar?
Pura balela.
Antes tivesse largado os pensamentos um por um, para dar mais espaço para as outras que há de mim. Talvez, assim, não teria precisado sair me largando por aí.
Sigo andando.
Às vezes me pego ajoelhada na estrada. Com lágrimas nos olhos e as mãos raladas, clamando por alguma resposta: onde está a época da simplicidade?
Deixei-a em algum lugar, provavelmente. Em algum lugar onde as pessoas acompanham melhor a difícil valsa que é a vida, com seu par, bem no tom e vestido bombom.
E lá, lá nessa época de simplicidade que eu perdi, deve haver uma de mim que é, pelo menos, um pouco mais feliz.
Um comentário:
Nao foi dif´cili de encontrar. rs...
Gostei desse espaço.
Ah, da próxima vez vê se se despede.
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