Eu disse que ia sair dessa vida, mas essa vida não sai de mim.
Sou esbórnia e desordem e pronto. Sou da noite, da lua e de tudo que puder durar pouco mais de um minuto.
Tenho que aceitar. Não vai ter ‘felizes para sempre’. Não vai ter batom clarinho e unhas feitas. Não vou começar a beber menos e acordar a ponto de flagrar o relógio digital ainda em números de um só algarismo. E ir para a praia no sol saudável, correr cinco quilômetros, tomar água de coco. Eu sou o estrago, o exagero, a completa falta de lucidez. E é disso que eu gosto.
Passo a semana disciplinada, adestrada. Acordo cedo, não bebo, não penso, só faço, repito tudo de novo, quarta, quinta, ultrapasso a sexta, dois copinhos no sábado e domingo... Domingo não resisto e jogo fora todo o esforço anterior. Entrego-me de braços abertos ao suor, à madrugada, à adolescência fora de época que tanto me encanta, à embriaguez do momento.
No dia seguinte a boca salgada e o corpo dolorido são tudo o que resta.
Mas eu sou assim, de restos. Não gosto de completo, ereto, certo.
Acho chato, entediante e previsível.
Eu sou torta e sou várias. Sou farsas tão falsas que beiram a verdade. Repleta de incertezas salivantes, de dúvidas salgadas e cabelos mal pintados.
Eu gosto. Gosto do desencaixe, não me venha com números pares, eu gosto de bares, com papos baratos e caros.
Difícil assim. Sou complexa e complicada, combinada com nada. E não me adianta tentar ser o senso comum, na morbidez do esperado, tão morno, tão morto.
Escolhi o não. O sim e o talvez juntos. Tento engolir o mundo numa só mordida e depois, a indigestão que dá, eu tento resolver num momento de realidade e ressaca, eventualmente, em qualquer segunda-feira como essa.
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