A casa deles tem cheiro de café. Tem cheiro de banana frita e cheiro de plástico de brinquedo – aqueles brinquedos só brincados nos finais de semana e que acabam concentrando o cheiro gostoso e artificial de plástico. A casa deles tem é cheiro de infância: cheiro de banhos que encharcavam o banheiro, de esconderijo atrás do sofá, de correria no corredor.
Eles, eles são tão juntos, que parecem um só. Avô e Avó. Deve ser por isso que a palavra é a mesma para os dois. Só que ela usa um grampinho e ele usa um chapéu. Acordam, dormem e comem juntos há anos. Ele toma remédio, mas é ela que lembra. Ela escolhe a roupa e é ele quem veste. Ela cozinha o jantar e ele lava a louça. Até que ela faz o café e os dois terminam a noite em frente à televisão, junto ao cheiro da bebida recém saída da cafeteira italiana.
Quando crianças, costumávamos passar algumas noites lá. Íamos dormir em camas perfumadas e bem-feitas, com pés absolutamente imundos, de tanto perambular. Ela vinha docemente, com sabonete, esponjinha e toalha para lavá-los, enquanto nós já estávamos deitadas. Ele fazia pão e ela deixava a mesa para o café-da-manhã preparada, na noite anterior. Sempre igual. As manias, ao contrário das pessoas, não envelhecem.
E ela perde os óculos, ele faz palavras cruzadas. E pegam no sono no sofá, sistematicamente ao mesmo tempo.
Quisera ter avô e avó para sempre. Quisera eu ter para o resto da vida esponjinhas de limpar pés cansados na minha cama. Quem dera essas pessoas tão doces não tivessem tantos cabelos brancos, dando a entender que, por ali, muito tempo já se passou. E que assim, um dia, terão que dar espaço a outros cabelos castanhos, que ainda hão de embranquecer.
Eles, eles são tão juntos, que parecem um só. Avô e Avó. Deve ser por isso que a palavra é a mesma para os dois. Só que ela usa um grampinho e ele usa um chapéu. Acordam, dormem e comem juntos há anos. Ele toma remédio, mas é ela que lembra. Ela escolhe a roupa e é ele quem veste. Ela cozinha o jantar e ele lava a louça. Até que ela faz o café e os dois terminam a noite em frente à televisão, junto ao cheiro da bebida recém saída da cafeteira italiana.
Quando crianças, costumávamos passar algumas noites lá. Íamos dormir em camas perfumadas e bem-feitas, com pés absolutamente imundos, de tanto perambular. Ela vinha docemente, com sabonete, esponjinha e toalha para lavá-los, enquanto nós já estávamos deitadas. Ele fazia pão e ela deixava a mesa para o café-da-manhã preparada, na noite anterior. Sempre igual. As manias, ao contrário das pessoas, não envelhecem.
E ela perde os óculos, ele faz palavras cruzadas. E pegam no sono no sofá, sistematicamente ao mesmo tempo.
Quisera ter avô e avó para sempre. Quisera eu ter para o resto da vida esponjinhas de limpar pés cansados na minha cama. Quem dera essas pessoas tão doces não tivessem tantos cabelos brancos, dando a entender que, por ali, muito tempo já se passou. E que assim, um dia, terão que dar espaço a outros cabelos castanhos, que ainda hão de embranquecer.
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