quinta-feira, 26 de abril de 2007

Esses dias...

E então eu acordo e o conhecido e até quase-confortante oceano que ficava entre a gente, está inteiro dentro de mim. Não restou nenhuma gotinha fora, está tudo salgado e gelado aqui. Mas ninguém está nem aí e a Terra continua a girar.

É manhã. Hora de levantar apesar de a vontade me faltar. Os sonhos e os olhos fechados são mais apetitosos do que o dia que começa a se estender. Mais alguns minutos e o sol toca a quina do prédio em frente à minha janela: são 7:40 querendo ou não, você tem que levantar.
Sem escolha, começo meu ritual e essa é a hora em que menos penso. Iogurte, dentes, roupa, chave de casa.

Vou sem pensamentos até o meu trabalho. Lá sim, há dezenas de pensamentos -preocupações, cheiro de papel impresso e um monte de palavrinhas dele vagando pelo ar; palavras mandadas por MSN, em uma visita ao escritório, por telefone. Aliás, essas palavras pelo telefone ainda colorem minhas manhãs sem mesmo existirem. O telefone toca às nove e, irremediavelmente, eu penso que é ele. Costumes difíceis de desgrudar do coração. Depois, ainda antes de atender me reprimo, mas aquela pontinha de esperança não sai da cabeça.
Engraçado eu esperar por ele, quando fui eu mesma quem disse “vai”. É que o amor às vezes é tão grande que cega e nos deixa sem saber agir. E ficamos burros, colecionando tiros e não suspiros – ah! sem rimas, por favor.

As horas passam como que uma para frente, duas para trás. O rádio ligado o dia todo me oferece confortáveis ombros para eu chorar minhas mágoas em palavras de outras pessoas geniais em palavrear sentimentos e cantá-los para o mundo todo. E nessas músicas eu me encontro, o encontro, me identifico, me remeto ao passado. Depois, volto. Até a próxima música que me capture de novo. E assim vou até as dezoito. Com quilômetros e quilômetros percorridos nessas idas ao passado e vindas ao presente.

O meu dia, como o de outras pessoas com vinte-e-poucos anos, é pesado. Depois do trabalho tenho aulas. Sociologia, Filosofia, Antropologia, menos um dia, que saudade a minha, monotonia, agonia, tão sozinha, chega de rima!

Finalmente termino meu trajeto diário às dez. E em outro mecanismo de não-pensamentos, devido ao sono e ao cansaço, me preparo para desabar na minha cama. Eu e o pesado oceano que carrego. Algumas gotas se liberam para o travesseiro, eventualmente. Imperceptíveis ao coração, que ainda carrega o mar todo. Aos poucos, vou me afundando nessa água e com olhos fechados, sinto-me mais leve, tranqüila. Até o sol tangenciar a ponta esquerda da construção em frente e gritar: mais um dia. Ou seria menos um?

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