Eu era criança e tinha um peixe chamado Nik.
O Nik foi comprado numa feira de final de semana, em qualquer ato de mimo da minha mãe com suas duas filhas: eu e minha irmã.
A gente não podia ter cachorro, então ela achou que um peixe substituiria bem. E substituiu.
A gente conversava com o Nik, batia no aquário com a delicadeza que só crianças de 6 anos têm e, após o grande susto, ele se aproximava do vidro. O Nik era feliz. Ele durou anos – ou qualquer outra medida de tempo que se pareça anos na cabeça de criança.
Aí, um dia, o Nik ficou doente.
Nessa época, tinha uma moça que trabalhava lá em casa chamada Rosinha.
A Rosinha gostava do Nik, ou, pelo menos, dizia que gostava.
Ela dava comida de verdade para ele e ele também adorava. Aí ele ficou doente e, talvez, ela tenha se sentido um pouco culpada por isso – acabo de perceber.
Ela resolveu levar o peixe ao veterinário.
A Rosinha pegou um ônibus com a gente e o enorme aquário na mão. Dentro dele, o Nik boiava na superfície, enquanto no fundo, se chacoalhavam as pedrinhas cor de abóbora, a concha com sereia e as bombas de ar.
Porque o ônibus não queria saber se o Nik estava doente, então ele acelerava pelas ruas e a Rosinha tentava equilibrar o aquário e o peixe – ele ia de um lado para o outro.
Pois é, ela não pegou um saquinho com água para colocar o bicho dentro – também acabo de perceber.
Enfim. Chegamos ao veterinário, que achou a cena um tanto quanto esquisita e falou qualquer coisa que satisfizesse duas crianças e uma doméstica que leva o peixe no aquário ao veterinário e a gente voltou para a casa.
Mais alguns dias e o Nik não resistiu e morreu com a barriga inchada, virada de lado, boiando no aquário.
Eu e minha irmã ficamos arrasadas.
Já planejávamos o enterro, ou a cremação?, uma cerimônia para o peixe que acabava de desencarnar, quando a Rosinha enfiou a mão no aquário, o agarrou entre os dedos e atirou o corpinho molhado pela janela.
- Pronto, crianças! É assim que se faz.
O Nik voou da janela e eu e minha irmã ficamos aterrorizadas. Mas por cinco minutos. Depois, não houve trauma, nem choro, nem tristeza.
Uma praticidade só.
É Rosinha, você devia ter me ensinado a jogar outras coisas pela janela também.
2 comentários:
Que saudade da Rosinha....rs. Será que ela está jogando coisas pela janela ainda?
Tenho coisas para deitar pela janela. Pudesse eu fazê-lo!
Postar um comentário