domingo, 1 de janeiro de 2012

Recaída nº 18.279


Eu sou um saco de quinquilharias que espantam quem vê de fora, mas fazem todo o sentido aqui dentro.  Eu junto cada vez mais coisas para digerir, justificando, talvez, meus tão agudos problemas intestinais.
Assim, no meu pouco mais de um metro e meio, levo as cervejas baratas de todo dia.  Também carrego dois ou três grandes amores recheados de uns outros cinquenta pequenininhos.  Muitas memórias e as faltas delas.  A literatura astrológica, o pagode poético, as cores flúor. Levo os sonhos loucos pintados de estrelinhas amarelas que só eu entendo.  E adoro.  Os amigos, os perigos, os vícios, os proibidos, tudo aqui.  Chacoalhando bastante por conta da minha antiga opção pela alta velocidade.

No meio de tudo isso, agora também tenho um mosaico de saudades.  E a cada dia, descubro ainda uma nova, que é cuidadosamente colada junto às outras.

A mais frequente é a saudade física.  A falta de ver, de tocar, de cheirar.  A falta da cara dele quando eu abria as pernas inusitadamente.  A falta do sorriso escancarado que balanceava os olhinhos apertados.  Dos tons cor-de-rosa da pele, da temperatura da língua, do jeito de me pegar.

Em seguida, vem a saudade química.  Saudade do frio na barriga que existia o tempo todo - quando o nome dele aparecia na tela do meu celular, quando ele me encontrava no ponto de ônibus da Jardim Botânico, quando eu acordava à noite e sentia o resto do abraço safado no meu corpo.

Eu também sinto saudade bem piegas.  É aquela de compartilhar a vida e saber se o Steve tem passado muito trabalho, se o Correia começou a namorar, se o Thales marcou outro encontro.  E agora eu entendo quem compôs "como vai você? Eu preciso saber da sua vida...".

Outro dia descobri a saudade do futuro.  Aquele futuro que não aconteceu e então eu sinto falta do meu sorriso junto do dele e junto de outros sorrisinhos que pareceriam com o dele.  Essa, talvez, seja a pior de todas.  Pior do que a falta de assistir Fantástico, de cozinhar risoto no domingo e de disputar Angry Bird.

Mas passa.  Todo mundo está me falando que passa, deve ser verdade.  Para tentar acelerar, resolvi despejar um pouco disso aqui.  Pelo menos, nestas linhas, ganha algum sentido, já que dentro de mim, não tem ajudado muito.

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