segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

You've got mail

Oi,


Às vezes eu queria entender o seu prazer em pegar as coisas lindas, amassar e jogar fora. Simplesmente porque elas não estavam à altura da sua expectativa. Deixa eu te dizer: a sua expectativa pode ser a sua maior adversária para realizar sonhos. Porque nem sempre ela é viável.
Tudo bem, não tinha a sua expectativa, mas tinha tanta coisa. Tinha um entendimento maior do que as adversidades da cidade. E isso é muito raro.
Além disso, tinha também o amor. O nosso amor, o meu amor. Do meu jeito, sempre o meu jeito, que você pouco aceitou. Não aceitou porque não estava de acordo com as projeções que você programou para si até seus 23 anos. Eu preciso te dizer outra coisa: projeções de 23 anos podem ser o maior inimigo para se chegar aonde realmente importa. Porque aos 23 sabe-se nada e se fechar no próprio desejo, sem deixar se misturar à realidade, é muito pouco.

Às vezes eu queria entender o que você vai fazer com toda a nossa história, bordada a ponto de cruz de todas as cores. Não cabe na gaveta, não cabe embaixo da cama, não cabe no estômago. É tudo tão enorme que eu me sinto uma criança perdida no próprio cobertor. Quente, confortável, bom. Mas essa talvez seja a minha ‘nossa história’. Porque a sua ‘nossa história’ é bem menor. Dá para amassar e jogar fora.
E então eu, viciada em rever os significados do mundo, vejo que ‘nosso’ não existe. É sempre de um jeito para um, de outro para o outro.
As imagens e as palavras ecoam e isso me desequilibra. A memória das coisas que iriam acontecer é de partir o coração. Ainda mais partido do que já está. Mas o fim da linha estava ali e você sabia disso havia mais tempo. Você me desperdiçou e despedaçou muitas vezes. Tinha pouco a perder e esse pouco era eu.

Às vezes eu queria entender essa inversão de prioridades da qual você sempre me acusou. Quando sempre foi mais importante o que estava só do seu lado: o orgulho, a raiva, a pouca satisfação. E todo o resto que esteve entre nós dois – o amor, o companheirismo, a adoração – era só o resto. Dói demais e essa é a maior prova de que foi tudo muito lindo e verdadeiro. E então, ao mesmo tempo em que dói, me conforta. Foi muito bom para mim. Se pudesse, faria tudo de novo, mesmo sabendo em como terminaria. Porque eu adorei. Só que como não posso recomeçar a mesma história, que venha a próxima.
Se cuida. Seja feliz.
Um beijo.



Um comentário:

Mariah disse...

Que venham muitas outras histórias tão boas quanto ou melhores...