Não vou. Quase que de implicância, não vou.
Não vai adiantar ouvir dos outros, sentir de mim, telefonar de madrugada – eu não vou!
Ignoro as asas que ele me deu e agora, tento voar sozinha, sem ele, sem asas.
Não chego a lugar nenhuma e me espatifo no chão com freqüência. Mas não vou ceder.
Sou metida a decidida, a segura, a bem resolvida.
Amasso sem dó todas as memórias e, como papel de chiclete, escondo tudo em algum bolso de calça jeans. Danço, suo, corro, sento no chão e coloco o jeans na máquina de lavar. O papel de chiclete amassado continua ali.
Aumento o som para espantar o vazio que fica sem ele e finjo gostar desse mundo de pouco espaço para muita gente.
Não ligo para o lugar reservado que tinha ali. Não sinto falta, não penso, não quero.
É isso, eu não quero.
Por implicância, por espírito de porco, que seja. Eu nunca disse que eu era fácil.
Recorro a saídas infantis e inúteis. Volto a ter dezesseis anos numa noite, invento uma personalidade nova para quarta-feira, finjo que sou loira, finjo que sou solta, falo uma nova língua para ver se espanto da minha cabeça as palavras do português que a gente tinha.
Me enfeito com os mais variados acessórios. Me pinto, pinto uma tela, escrevo meus versos nas paredes do meu quarto. Hoje sou escritora, amanhã sou doutora, sou minha, nossa, mas dele não. Dele não sou.
Vou desbravar o mundo todo para provar isso.
Quase como criança, quase que de implicância, repugnância e, porque não?, esperança.
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