A linha entre aqui e lá é muito tênue.
Sábios são os que conseguem escolher em qual dos dois lados ficar.
- Hoje, fico lúcido. Na sã consciência do meu ser, enfrentando a dura pseudoperfeição humana e todos os bens e males que já devo ter feito por aí.
- Amanhã, sou devaneio. Sou louco, feliz, toco o céu com os pés e, em uma tontura quase sobrenatural, me faço gente.
A diferença é pequena, como disse, a linha entre os dois lados é muito, muito tênue.
Na falta do poder de escolha, me solto. Enlouqueço e volto a cada segundo – deixando um pouco perdido quem calhar de estar ao meu lado.
Alterno entre ser sã e insana em uma intensidade quase que infantil e tento não deixar transparecer, em uma atitude covarde, mesmo.
Dou voltas por aí, solto sorrisos vazios enquanto encho todo o resto à base de álcool. Entro no esquema, executo o papel de mulher. Jogo também com meu orgulho e, como exigido, finjo me importar com os jogos dos orgulhos dos outros. Neste lado, eu não sou de verdade.
No outro, onde a falta de realidade coletiva é aparente, onde a individualidade representa a sua própria verdade, sou mais real. Embora haja mais sujeira neste lado, mais faces insuportáveis a serem encaradas, sou real. Livro-me de julgamentos; sou dona de mim.
Mas o domingo já, já acaba e o lado de lá clama por minha presença. Há que se fingir mais uma semana. Há que voltar ao esquema rapidamente. – o mundo é apertado e rígido. Não há espaços para loucura.
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