Novo ano, novas regras

As ideias perderam o acento.
Agora, escritas assim, elas não mais são aceitas pelo meu Word.
E dificilmente serão aceitas por mim porque apesar da regra, as minhas ideias – as que são só minhas, mesmo – ainda vêm com acentos. Mas nem precisa falar, eu sei! Isso é questão de costume...
Vai ver modificaram a palavra para a gente entender que ideia está bem perto de ideal. Sem o acento fica realmente parecido.

Eu prefiro pensar assim.
Não gosto de tentar entender que todos os hiatos-proparoxítonos-neuróticos perderam seus acentos. Não me agrada enxergar as palavras assim...

Heroico.

Meu Word também não o aceita mais.
É porque foi-se o tempo em que o que era heroico, heroico mesmo, vinha a cavalo, com bravura, arpão e acento. Agora, se ainda há algo heroico, ele é assim: humilde, quietinho, bem mais próximo da realidade insossa que a gente vive. Perdeu o acento.

Nessa história toda, quem se deu bem mesmo foi o paraquedas. Perdeu o hífen. Ficou mais intenso, mais direto: é queda mesmo, sem apoio, sem auxílio, sem hífen.
Vive nas alturas, em voos que também ficaram mais simples. Basta se atirar! Dar adeus aos heroicos, às ideias. Se encantar com um mundo mais leve, lá de cima, sem tormentos, sem limites, sem acentos e sem hífens.

Mas enquanto aqui embaixo, vamos ter que nos acostumar.
Eu, você e o Word.
Vamos ter que aceitar as novas caras dos heroicos e das ideias, que é o que nos resta.
Entender dos oxítonos, das regras gramaticais e entender que o tempo passa, as coisas mudam e o mundo, na realidade, permanece em constante estréia.
Ou estreia.