- Torre de controle, aqui quem fala é o comandante do vôo JXL-339. Informo que estamos com problemas no trem de pouso. Não vamos conseguir aterrissar. A aeronave está em perigo. Torre de controle, câmbio! Vou avisar aos passageiros a bordo, o avião está caindo...
É assim que o meu primo brinca, agora. Meu primo de quatro anos.
Ele é fissurado em aviões e mais ainda em quedas de aviões. E não deve ser a única criança que brinca assim, já que temos um acidente a cada três meses trazendo um repleto e novíssimo vocabulário aeronáutico para esses pequenos. Caixa preta, manetes, grooving, e todas essas palavras que a gente fica conhecendo a cada vez que despenca um avião dos nossos céus.
Para essas brincadeiras, ele conta com vários aviões em miniatura. Alguns já um pouco acabados, devido às vezes em que ele sobe no sofá com o brinquedo entre seus pequeninos dedos e o deixa cair lá de cima, de encontro ao chão, com direito até a trilha sonora:
- Vruuuummm... craack, ploft, bum! – e o aviãozinho se choca contra os tacos de madeira da sala.
Ai, ai essa modernidade... Lembro da minha época de brincadeiras de avião. Havia uma mágica em cima daquele troço enorme que não caía. Eu tinha pequenos objetos que carregavam Varig em relevo e vinham de viagens que os meus avós faziam. Dessas aeronaves, eles traziam travesseiros, cobertores, garfinhos, copinhos,... Enfim, recheavam minha casinha de bonecas.
Hoje em dia, pobres crianças! De aviões, podem ganhar, no máximo, um saquinho de castanhas com sal. E não têm mais a mágica de antigamente. Sabem que o avião cai. Sabem que todo mundo morre. Sabem dos procedimentos de queda, do trabalho dos bombeiros, até da irresponsabilidade do governo.
Até que todo esse caos é, no mínimo, educativo...
E então meu priminho, vítima dos noticiários, só pensa em aviões caindo. Só quer brincar de torre de controle e piloto: “você é o comandante, tá bom?” E eventualmente, ainda cria um ligeiro desconforto em outros passageiros, quando voa do Rio a Salvador, aos berros, entre gritos eufóricos e gargalhadas, durante todo o percurso:
- Papai! Papai! Esse avião vai cair e vai matar todo mundo, sabiaaaa?
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