Um Conselho

Não, não adianta sua mãe dizer que você escreve bem, seu pai acreditar em você e o espelho te dizer que você está legal hoje. Não adianta se programar para estudar o necessário, nem conseguir ir à academia sem faltar e perder cinco quilos. Não, de nada adianta se revoltar contra o sistema, tentar saber tudo de cinema ou procurar a grande solução para o seu problema. Também não adianta encontrar alguém – se encontrado, é porque já se perdera antes e nada, nadinha vai te assegurar que não perderá de novo. Não adianta cara-de-pau, cara feia, vergonha na cara, encher a cara ou o cara de Sábado te ligando. Não, não adianta amigos, sol no Domingo, falar “sonhe comigo”. Não adianta falar inglês, ter Orkut, tirar a carteira, ganhar na raspadinha, querer morrer, querer viver. Não adianta uma idéia brilhante ou aquele sentimentozinho que dá no fundo do peito e diz que vai dar tudo certo. Tão pouco adianta terapia, mordomia, poligamia, sintonia, companhia... Não, não adianta comer e vomitar, gozar fora, tomar Engov, sair correndo, prender o choro, juntar dinheiro, carnaval, vendaval, comida sem sal. Não adianta nada. Tudo, não adianta também. Sempre vão haver etapas, tapas, ressacas, caracas, cascas, lascas. Já estava tudo aqui muito antes de você chegar. Vinte-e-poucos anos é apenas o começo. É melhor se acostumar, respirar, se acalmar, escutar, olhar, parar, andar e parar de novo.