Sobre esses caras

O mundo é um abismo de pensamentos proibidos que quando se conhece, apertam o peito e parecem te matar. O vazio das vontades reprimidas, escancaradas por alguns caras espertos, dá à realidade um tom frio e míope.
Eu sei de tudo isso. Encontrei alguns desses caras, Sigmund, Martin, Guillermo, e eles me estupraram. Empurraram-me contra a parede e invadiram minhas crenças baratas, minha religião conveniente, meus valores pagãos.
Eu encontrei o lado escuro do mundo e construí a minha terceira década de vida com guetos, álcool e versos. Com críticos, livros e céticos.

A verdade é que o mundo sem santa me encanta.
A espontaneidade de tudo: não, não tem nada premeditado, nada ensaiado, nada programado.
Tudo é o que é e você está aqui só até o momento de não estar mais.
E o pior (ou melhor): na mais sincera solidão.

Eu sou apaixonada pela vulgaridade desta completa falta de sentido.
Que fique subentendido. Bem subjetivo, para que qualquer um possa pintar o que bem entender em cima.
Até essas merdas de dízimos e regras dizimadas que aliviam a tanta gente.
Até essas merdas de destino e futuro e parasempre e amoreterno.
Até essas merdas de fazer o bem para receber o bem.
Pinte o que quiser e seja feliz.

Mesmo que na mais plena ignorância.
Porque não há mesmo o sujeito bom, sabe? Você não é. Eu não sou. Ninguém pode ser.
Eu descobri isso quando entraram pelas minhas veias as palavras desses caras, Charles, Friedrich, Pablo.
Eu abri as pernas e me encantei sem nem entender tudo.
Porque reconheço o limite da minha própria estupidez.
Cada um tem o seu, afinal.
E você não vai ver salvação no final.
Porque não tem final, nisso tudo, não tem nem o início.
Mas eu respeito se você quiser gastar a sua valiosa tela de falta de substantivos com borboletas sagradas e flores cristãs.



Não, na verdade eu raramente respeito. Mas vou tentar me conter.