domingo, 20 de setembro de 2009

Digo agora

No momento exato a boca calou-se. Tão cerrada, se encheu de saliva e não fazia nada além de balbuciar. Não tive o que fazer. Tive o que falar, tive para lembrar, para berrar. Mas no momento exato a boca calou-se.
Na implicante anatomia do meu corpo, tudo o que eu poderia dizer tornou-se pouco. Qual palavra seria a ideal depois de ouvir o ‘adeus’. Como expressar tanta coisa em verbos, versos, inversos e submersos em tanto vazio? Não houve palavra suficiente. O português se encerrou em mim.
Ouvi o adeus e, então, a boca calou-se. Os olhos disseram, as mãos inválidas, paralisadas, disseram. A tarde na cidade e as folhas ventando disseram. Ele disse, eu não.
Mas digo agora: vai tarde.

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