Resolvi me desfazer da minha prancheta de Arquitetura.
Sei que deveria ter feito isso antes, já estou longe dos esquadros e ângulos retos há algum tempo. Mas não o fiz. Talvez porque a prancheta fosse um excelente guardador de roupas: montanhas de blusas, vestidos e sutiãs habitavam o tampo daquela mesa.
Talvez fosse por falta de coragem também. Era tão importante me debruçar em cima daquela prancheta. Mas era muito irritante fazer aqueles desenhos. A planta baixa, as vistas, a fachada, os cortes. Era realmente um saco.
Eu me enganei com a Arquitetura, acontece. Então coloquei no armário de cima o estilete, o papel Paraná e a régua T. A prancheta não coube, e talvez tenha sido este o real motivo para ela ter continuado no meu quarto por mais tempo. De certo eu poderia tê-la desmontado, ok. Mas tive preguiça. E além do mais, não estou muito a fim de ficar interpretando todos esses fatos agora, não. O importante é que o elefante branco continuou lá dentro e só agora eu resolvi removê-lo.
No lugar, não sei ainda o que colocar.
Num primeiro ímpeto, pensei em uma estante bem bonita com a televisão que eu ganhei! Depois me reprimi. Televisão não. A televisão vai ficar num cantinho, perto do teto, quase imperceptível.
Mais tarde pensei em um sofá. Logo desisti. Uma cama e um sofá no meu quarto não fariam sentido algum. Eu não sou tantas assim, uma cama já me serve bem, obrigada.
Pensei em um urso de pelúcia gigante, um computador, uma escultura de uma coruja enorme que vi na feira hippie, a esteira ergométrica em teias de aranha que está lá na área, um berço para meu futuro filho, uma barraca de camping, um carro, um colchão inflável, a casa da Barbie, uma nave espacial, uma carrocinha de pipoca, ficou vazio.
Ficou vazio o lugar que era daquela mesa. E é estranho. Parece que ela então continua lá, porque eu não a substituí. Olho para aquele quadrado desocupado e penso imediatamente na prancheta, mesmo estando tudo vazio. Engraçado quando a ausência faz isso. Quando a ausência fica tão grande, tão completa, tão perfeita, que não é ausência, é presença.
Um jardim de samambaias, talvez?
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